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Rumo à sustentabilidade: caminhos para um futuro net zero até 2050


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16 de fevereiro 2024

Autora: Mayara Yasmin Mendonça
Autora: Malirre Abadi Ghadim

 

As alterações climáticas e fenômenos naturais, cada vez mais frequentes e intensos, evidenciam a importância de uma conscientização urgente da sociedade e das empresas em relação ao acelerado processo de aquecimento global que estamos enfrentando. Em outras palavras, é necessário um ajuste de contas da humanidade com o planeta Terra.

No entanto, atingir um mundo mais sustentável, mesmo com diversas práticas preventivas já em vigor, pode não ser uma tarefa tão simples, especialmente pela urgência na tomada de medidas.

Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), as emissões globais de gases poluentes devem atingir nível zero até 2050, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris, que definiu a ambiciosa meta Net Zero-2050.

Ela consiste na adoção de planos de recuperação do meio ambiente, através da compensação do dióxido de carbono (CO2) emitido pelos países, até atingir a sua neutralização (por isso o termo zero), o que envolve a cooperação dos variados setores da economia e dos próprios agentes governamentais, para que seja posto em prática e atinja à mais ampla camada da população.

A Net Zero vai além de mera política ambiental, e vem para modificar a consciência global e o estilo de vida da população, na expectativa de frenar os avanços da degradação dos recursos do planeta até 2050, sob pena de chegarmos ao esgotamento da Terra, e da própria humanidade, causado pelo crescimento populacional constante e a extinção dos recursos naturais.

Logicamente, esse novo “estilo de vida terráquea” pautado na meta Net Zero exigirá a colaboração de todos os agentes envolvidos, ainda que alguns governos não se adequem às diretrizes da comunidade internacional a tempo.

A meta Net Zero é um indicativo da capacidade de reinventar o próprio modelo de exploração e produção, acreditando no resgate do nosso planeta, meta ambiciosa que, se cumprida, trará resultados muito mais benéficos para humanidade do que os planos de exploração de outros planetas, como a Lua e o misterioso Kepler-452B, que dizem ser habitável[3], como uma Terra maior.

Há de se convir que enquanto os governos as grandes corporações estudam e investem recursos construindo máquinas, equipamentos e naves espaciais para expedições ao espaço, a Terra continua esgotando-se rumo ao colapso, sobrecarregada com mais poluentes oriundos dessa indústria “pós apocalíptica”.

Por que não investir tempo, conhecimento, tecnologia e recursos para recuperar o planeta que nos fornece as mais variadas riquezas? A Net Zero é um convite para agir nesse sentido, evitando que até 2050 realmente precisemos embarcar numa nave rumo à Lua, porque o nosso planeta está inabitável.

Basicamente, um plano para a implantação da política ambiental Net Zero deve calcular as emissões de CO2 gerado e, depois, criar mecanismos para compensar a emissão, objetivando zerar o saldo de emissões, o que pode ser feito diretamente, por meio de reflorestamento de áreas desmatadas, por exemplo, ou de forma “terceirizada”, através da compra de créditos de carbono de instituições qualificadas que já possuem programas de emissão zero.

As formas de implantar e executar a política Net Zero são variadas, visto que apenas reflorestar áreas desmatadas já não é mais suficiente para recuperar a alta taxa de poluição e emissão de dióxido de carbono no planeta.

A transição energética é uma peça fundamental na busca de um futuro Net Zero, trazendo inúmeros benefícios ambientais, econômicos, sociais e tecnológicos.

Nesse campo surgem as energias renováveis, como valiosos instrumentos à Net Zero, tanto para o sistema de compensação e neutralização, quanto como novo modelo de produção e consumo de matérias, menos poluentes e impactantes para o nosso planeta, o que permite prolongar a expectativa dos recursos naturais ainda disponíveis.

Se no século XVIII a revolução industrial teve seu boom com o uso e exploração do carvão mineral como matéria energética mais rentável para e economia, hoje, podemos afirmar que as energias renováveis são a opção mais inteligente, duradoura e, também, rentável, dado o esgotamento dos recursos naturais após séculos de crescimentos econômico com a globalização.

Não à toa, se vê o alto interesse e investimento de diversos países na obtenção, geração e distribuição de energias renováveis, com investimentos em tecnologias e implantação de parques, a exemplo dos fotovoltáicos e eólicos, que foram ampliados para a exploração off shore (em alto mar), como forma de maximizar todo o espaço disponível no planeta para recuperar o máximo de recursos, o que é prioridade para nações com alto índice de emissão de CO2, como a China, Reino Unido, Alemanha e Holanda.

O Brasil não fica atrás, pelo contrário, se destaca como a segunda nação que mais produz energias renováveis, atingindo a marca de 89,2% de energias “verdes”, segundo estudo feito em 2023 pela Enerdata[4], perdendo apenas para a Noruega[5], condição que é altamente vantajosa para o plano de neutralização de CO2, pois nosso país é o quinto maior emissor de gás do planeta[6].

Neste cenário, a transição energética para o Brasil torna a meta Net Zero até 2050 mais palpável, com vantagem em relação aos demais países, considerando que somos um celeiro de energias renováveis, o que permitirá a exploração e o desenvolvimento econômicos nesse período, beneficiando ao meio ambiente e também à economia, se bem conduzida.

A Net Zero é uma oportunidade para que países tidos como “emergentes”, como Brasil e Índia, assumam o protagonismo mundial, passando de zeladores dos refugos industriais e tecnológicos dos países “desenvolvidos”, para produtores e geradores da riqueza sustentável, mudando o polo político e econômico no cenário internacional, o que permitirá o seu desenvolvimento e, quiçá, a neutralização não só do CO2, mas das desigualdades socioeconômicas internas e externas.

E essa não é uma expetativa ingênua, pois o estudo “Caminhos para a Transição Energética no Brasil”, realizado pela agencia Deloitte a pedido da empresa de energia ENEL[7], concluiu que o investimento em energias renováveis e a adequação à meta Net Zero até 2050, permitirá o crescimento de 3% sobre o PIB brasileiro.

As previsões de crescimento econômico com a Net Zero são animadoras, e foram confirmadas em outros estudos, como o realizado pelos economistas da Systemiq e AYA Earth, que concluíram pelo ganho de até US$ 100 bilhões a US$ 153 bilhões de dólares por ano ao PIB nacional, se reduzirmos as emissões de CO2 em 1,3 Gt até 2030[8].

É necessária a mudança de mentalidade, da crença de que os caminhos sustentáveis e ecológicos não são lucrativos, em verdade, é preciso espírito empreendedor e resiliente, para se adaptar no mercado e reinventar as formas de exploração dos recursos, para garantir as suas permanência e competitividade, evitando a autodestruição.

Os dados e fatos revelam que a meta Net Zero para 2050 não é uma ficção científica, nem “coisa de ativista”, mas sim, uma medida de urgência para o presente.

Estamos em uma revolução, tal qual as duas industriais passadas, porém esta depende de aliar a tecnologia à sustentabilidade, para gerar meios de crescimento socioeconômico, sem prejudicar a permanência humana no planeta e garantir um futuro climático, social, político e econômico mais seguros.

Referências:

[3] CNN Brasil. Disponível em:< https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/terra-20-conheca-os-exoplanetas-candidatos-para-abrigar-a-humanidade/> Acesso em 30/01/2024.

[4] ENERDATA – World Energy & Climate Statistics – Yearbook 2023. Disponivel em:< https://yearbook.enerdata.net/renewables/renewable-in-electricity-production-share.html> Acesso em 30/01/2024.

[5] STORY, Be The Story Know The. Publicado em 28/09/203. Disponivel em:https://www.be-the-story.com/pt/ambiente/os-paises-mais-limpos-quem-lidera-nas-energias-renovaveis/#:~:text=O%20mesmo%20estudo%20indica%20que,lugar%20com%2086%2C6%25). Acesso em 30/01/2024.

[6] BRASIL, Agencia. Publicado em 23/03/2023. Disponivel em:< https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-03/brasil-registra-alta-na-emissao-de-gases-de-efeito-estufa> Acesso em 30/04/2024.

[7] VALOR, Economico. Publicado em 01/03/2023. Disponivel em:< https://valor.globo.com/patrocinado/deloitte/impacting-the-future/noticia/2023/03/01/brasil-pode-alcancar-zero-emissoes-de-carbono-ate-2050.ghtml>. Acesso em 31/01/2024.

[8] Idem.

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